quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

REZANDO O BARALHO



Sábado à tarde. O sino do quartel bateu convocando todos para a santa missa

vespertina. O soldado Agenor jogava baralho com seus amigos. A contragosto
interrompeu o jogo e foi para a capela. Durante a missa não desgrudou os
olhos de seu baralho...
Finda a celebração, um sargento "dedou" o soldado.
- Coronel, o Agenor passou a missa toda distraído com seu baralho, sem rezar
nada...
O coronel chamou o soldado:
- Isso é um desrespeito, soldado. Religião é coisa séria...
- Mas, coronel, eu passei a missa rezando o meu baralho ...
- Rezando, como?
- Quer ver, coronel? Na carta 1, pensei que existe um só Deus... Na carta 2,
meditei sobre aquele problema meio complicado: Jesus tinha duas naturezas, a
humana e a divina... No baralho 3, pensei na Santíssima Trindade...
- E na carta 4, soldado? - perguntou o coronel.
- Na 4, coronel, meditei nos quatro evangelistas: Mateus, Marcos, Lucas e João,
que escreveram coisas lindas! Na 5, pensei nas cinco chagas de Jesus. Na carta
6, bem, aí eu viajei para o Antigo Testamento: Deus fez o mundo em seis dias...
Na carta 7, essa foi fácil, coronel. Pensei nos sete sacramentos...
- E na carta 8, meu filho?
- Fácil! Jesus fez um sermão famoso, chamado o Sermão das oito bem-aventuranças,
que resume tudo o que ele disse. Na carta 9, agradeci à minha saudosa mãe que me
ensinou a fazer novena, sempre que desejo uma grande graça. Na carta 10, é claro,
pensei nos dez mandamentos da lei de Deus...
Impressionado com o show bíblico-cultural, o coronel rematou :
- Soldado Agenor, tinha pensado em prender você neste fim de semana. Está
desculpado. E mais: eu o promovo neste momento!
Ser cristão é rezar o profano e o sagrado, a fé e a vida... no altar do cotidiano.
Roque Schneider